Estudo destaca impacto do El Niño no Oceano Atlântico

Fenômeno climático influencia pesca em regiões da África e América do Sul

18/12/2025 às 13:27
Por: Redação

Um estudo recente publicado na revista Nature Reviews Earth & Environment, nesta quinta-feira, 18 de dezembro de 2025, amplia a compreensão sobre os efeitos do El Niño–Oscilação Sul (ENOS) no Oceano Atlântico. De acordo com os pesquisadores, este fenômeno climático pode influenciar significativamente a produção pesqueira em áreas da África e da América do Sul.

 

O ENOS é caracterizado pela alternância entre o esfriamento (El Niño) e o aquecimento (La Niña) do Oceano Pacífico, resultando de variações nos sistemas de pressão e nas circulações atmosféricas e oceânicas. Essas mudanças impactam as condições climáticas em diversas regiões, incluindo a quantidade de precipitação, ventos, temperatura e salinidade do oceano, além de afetar o escoamento de grandes rios.

 

Impactos no ecossistema marinho

O estudo evidencia que as mudanças provocadas pelo ENOS afetam a disponibilidade de nutrientes e oxigênio nas águas, fatores essenciais para a sustentação do fitoplâncton, que é a base da cadeia alimentar marinha. Essa influência repercute na abundância de espécies de peixes e crustáceos com relevância comercial. Contudo, os impactos do ENOS não são uniformes e variam conforme a localização geográfica, a espécie e o período analisado.

 

No norte do Brasil, por exemplo, o fenômeno está associado à redução das chuvas na Amazônia, diminuindo a pluma do rio Amazonas. Esta redução impacta o transporte de nutrientes para as regiões costeiras do Norte e Nordeste, essenciais para a cadeia alimentar local, conforme descrito pelo artigo.

 

Variação regional e respostas adaptativas

No sul do Brasil, o El Niño tem atuação extratropical e costuma aumentar as chuvas, como ocorreu no Rio Grande do Sul em 2024, elevando o aporte de água doce e nutrientes, e potencializando a pesca de certas espécies. No Atlântico Sul central, observa-se o incremento da captura de albacoras, uma espécie de atum explorada comercialmente.

 

Essas reações variam não apenas com a região e a espécie, mas também com a estação do ano e o período histórico. O estudo, conduzido por Ronaldo Angelini da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, busca integrar aspectos físicos, biogeoquímicos e ecológicos para explicar essas variações.

 

Desafios e propostas de monitoramento

Conforme Angelini, as reações observadas na pesca nem sempre são lineares ou consistentes devido às mudanças climáticas que alteram a frequência e intensidade do ENOS. A pesquisa também identifica lacunas no conhecimento atual, como a falta de séries históricas de dados pesqueiros e limitações nas observações por satélite.

 

O estudo, resultado de uma colaboração internacional, sugere a elaboração de modelos quantitativos comparáveis com estimativas de incerteza, para distinguir os efeitos do ENOS de outras variabilidades climáticas. Os autores enfatizam a importância de estratégias de manejo adaptadas a cada contexto pesqueiro e defendem um monitoramento oceânico coordenado, que inclua redes integradas e protocolos comuns.

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